RUI OCTAVIO DOMINGUES
( BRASIL – SÃO PAULO )
Nasceu em Piracicaba, Estado de São Paulo, a 28 de agosto de 1928.
Formou-se pela Faculdade Católica de Direito, em 1951.
Juiz do 1º. Tribunal de Alçada do Estado do Rio de Janeiro, Presidente da 1ª. Câmara Cível.
Publicou: Escritos Subjetivos (1983).
Foi eleito membro titular da Academia Guanabarina de Letras, na
cadeira que tem como patrono Rui Barbosa.
A TOGA E LIRA: coletânea poética. Abeylard Pereira Gomes ...
et al.: apresentação por Fernando Pinto. Rio de Janeiro: Record, 1985. 224 p. Ex. doação do livreiro BRITO, Brasília
DESMEMÓRIA
Camadas de tempo
se-
dimentadas.
Leyers one on the top of another.
Desmemoriados,
esquecemos o feitio dos rostos
a linha dos pensamentos evolados
volados alados volados gone gone
esquecemos os nomes das pessoas
que um dia foram amadas
foram esquecidas todas as datas
as datas se anulam após semana.
E cada qual tem o seu modo particular
de esquecer o próprio esquecimento.
Esquecemos ao noites da infância
certas noites quando acordávamos sozinhos
estranhos insones os objetos assumindo
formas ignotas no quarto penumbrado!
Cada um ignora com uma ignorância toda sua.
Cada um com a sua desmemória particular.
(Mas a camada de lembranças da infância
volta a florir
no riso dos filhos delas duas.)
ARQUEOLOGIA
O eterno retorno se realiza
em termos de uma íntima arqueologia.
Aos sedimentos dos dias, da noites,
à soma das tardes,
as últimas cintilações de certo entardecer,
nas dobras dos sonhos mais esquecidos,
às cidades inteiras soterradas
no nosso esquecimento particular
(à espera de certa arqueologia íntima)
— voltamos (eterno retorno)
até sem saber que estamos repassando
o passado
— repassamos a experiência de quem palmilhou
antes de nós (pater noster)
determinada volta da espiral
— apenas pressentimos
que cada dia já foi vivido
— uma outra existência
(Piracicaba cidade universitária:
infantis passeios matinais
num pomar com centenas de árvores frutíferas
— frutos pisados no chão, esmagados na terra
úmida
— fértil terra paulista onde tudo germina, tudo
brota
— no ar o aroma das coisas intensamente vegetais,
sumos, cores, sabores, abiu, sapoti, goiaba,
amora)
uma outra existência já vivida em outro mundo
nos espreita a cada passo
— nossa infância foi bem outra existência
(o menino podia pressentir?)
— à espera do eterno retorno:
sábias escavações da última idade,
Ouço apitos distantes de trens
perdidos nos trilhos do tempo: eterno retorno.
*
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Página publicada em julho de 2023
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